Certa madrugada fria irei de cabelos soltos ver como crescem os lírios. Quero saber como crescem simples, belos e perfeitos!Ao abandono nos campos...

segunda-feira, junho 23, 2008

Luar


Ah, a noite! O dia cansa-me... é feito de rotinas, povoado de vozes incessantes,
de lugares-comuns, de opiniões expressas ou caladas, do frémito incessante de multidões em constante movimento.
A noite é feita de poesia, de lua e de estrelas, de silêncios plenos de palavras, do tic tac suave do relógio enquanto me perco numa hora... À noite posso procurar-me por entre os rascunhos que só a lua me dita, qual mestre-escola a um pupilo dedicado.
No silêncio reinante da escuridão, ouço as batidas do meu coração, os sussurros tímidos da minha alma... À noite o meu espírito conta-me histórias de alegria ou solidão, de júbilo ou de mágoa, de pessoas que conheço, amigos de sempre ou simples estranhos que jamais cruzarão o meu caminho.
Os cobardes temem a ausência do Sol, acham-se incapazes de trilhar o seu caminho às escuras e divagam, perdidos no país dos sonhos, procurando às apalpadelas, inquietos, o fio condutor sem o qual já não sabem progredir...
Os sonhadores deslizam docemente sob um manto estrelado de magia, ansiosos por encontrar no sono o que a vida ainda lhes nega acordados, porque sabe que quem tem tudo de uma vez raramente lhe dá o devido valor.
Os poetas saúdam a lua, a musa da sua arte, e acolhem a sempre evasiva inspiração, cativando-a sob os raios das estrelas nostálgicas. Observam a cidade que dança, vibrante, na sua folia e vêem pessoas comuns, com vidas regradas e sonhos simples e invejam o seu espírito saciado. Querem escapar à dor que os consome... porque jamais estão satisfeitos na sua sede por algo mais belo e mais profundos que nunca chega, embora o procurem a cada noite, a cada lua, a cada obra... Como loucos, vagueiam pela vida à procura de um sentido que só a eles ilude... porque na sua ânsia de querer compreender, de querer criar algo sempre mais belo, esquecem que as palavras são inúteis a quem sente com a alma, com o sonho, com cada centímetro de pele e cada pedaço de amor....
E, assim, as noites passam, ilusórias, e a cada nova alvorada o poeta descansa na ciência do seu fracasso. No fundo, ele sabe porque falha, mas sem a lua e as estrelas sabe que não é nada. É escravo do dia, mas filho da noite... e, na sua eterna busca , é feliz...

1 comentário:

s disse...

Partilho da mesma opinião, às vezes só o silêncio da noite permite sonhar, reflectir e ao mesmo tempo viver de um modo especial.

beijinhos.