Certa madrugada fria irei de cabelos soltos ver como crescem os lírios. Quero saber como crescem simples, belos e perfeitos!Ao abandono nos campos...

quarta-feira, maio 30, 2007

Falta de inspiração...!


Tenho dias assim...

Em que a minha cabeça, parece oca, vazia de ideias, mas cheia de preocupações...

E quando estou nesta fase, tipo encubação, não sai nada...rigorosamente nada!

Fez dia 29 de Maio 7 anos que o meu pai faleceu!

Parece que foi ontem, sinto muito a sua falta, parece que ainda ouço o tom grave da sua voz, quando em jeito de brincadeira, me dizia as verdades, que vindas dele, não me custavam a ouvir.

Ainda hoje sinto um aperto no peito, e um nó na garganta, quando entro no quarto que ele ocupou até nos deixar...

Ouvir falar dele, sempre com o verbo em passado, causa-me náuseas, e revolta!

Ele é presente, hoje e sempre...

Não posso admitir que o homem, por quem eu me guiei toda a vida, tenha morrido.

Deixou um vazio no meu coração, que nunca vai ser ocupado por ninguém, tinha um lugar vitalício... conquistou-o por mérito próprio.

O cheiro ao after shave que usava, ainda está entranhado nas paredes de casa, os frascos semi-vazios estão na prateleira, como quem espera ser utilizado novamente, mas não... isso não vai mais acontecer, porque onde ele está não precisa de fragâncias artificiais...

Pois não? Pai?

Imagino que o paraíso esteja repleto de flores, na Primavera, e o seu perfume cubra todas as almas boas, que como tu foram escolhidas para esse sitio magifico...

beijo, pai...e até um dia...

sexta-feira, maio 04, 2007

O Adeus...


" O amor não existe; o que existe são provas de amor..."
O quarto, numa semi-penumbra, onde se misturam os odores de certos fármacos com os das rosas acabadas de colher, tem uma paz muito própria.
Joana pode durar horas, minutos, ou segundos. O médico ao sair, avisara os filhos, Gonçalo e Rodrigo, do vaticínio clínico.
Um de cada lado da sua cabeceira, guardam entre as deles, cada uma das mãos de sua mãe que, embora com uma respiração já muito fraca, conseguia manter o olhar sereno dos últimos dias.
Rodrigo, com lágrimas silênciosas a correrem-lhe pelo rosto, recorda os tempos de menino em que aquela mão, então vigorosa, lhe percorria os cabelos, acarinhando-lhe a nuca nos imprescindiveis momentos que antecediam o adormecer. A mesma mão que todas as manhãs, pelas seis e meia, o levantava ensonado, o vestia e o levava ao autocarro do colégio. Essa mão que durante anos, semanalmente lhe escrevia, nas longas férias passadas no Alentejo, em casa dos avós e, mais tarde, nas primeiras viagens feitas ao estrangeiro, ainda muito jovem, nas excursões do colégio.
Rodrigo era sempre o que tinha mais correio da família e orgulhava-se disso. Tinha saído a primeira vez a Dijon, talvez com onze anos. Fôra um mês de corte umbilical, que tanto lhe custara na altura, mas que iniciara, sabe-o hoje, o espírito aventureiro que ainda sente dentro de si.
Fora também aquela mão que acidentalmente, lhe dera algunas nalgadas, quando a rebeldia era considerada excessiva.
Ainda as mesmas mãos que lhe haviam dado a carta de alforria - a chave de casa - entre as muitas que havia de perder... Foram ainda elas, hoje tão frágeis, que sempre encontrara nas alturas em que delas mais precisara...
Gonçalo não chora. Tem os olhos tão secos e o rosto tão tenso, que toma a expressão das ocasiões em que as lágrimas não conseguem passar do aperto na garganta. Como em menino...
Amava aquela mãe, com o afecto mais profundo de que se sentia capaz. Mantivera, sempre, com ela uma relação turbolenta, porque sentindo-se da sua fibra, não conseguia partilhar a sua forma de pensar. Fôra um "gostar contido", como as convicções o haviam, aliás ensinado.
Os anos conseguiram adoçar, lentamente, aquelas arestas mais duras entre ambos.
Hoje, perguntava-se a si próprio, quantas pessoas ele respeitaria tanto como aquela mãe, simultâneamente tão diferente e tão igual.
Joana fez um ligeiro movimento de corpo e os olhos passaram de um para outro dos seus filhos.
Ela sabia que o seu tempo estava por um fio, e que aquelas eram as derradeiras imagens levaria consigo.
De tudo quanto fizera na vida, nada passara ao lado destes filhos tão diferentes e tão amigos.
Por instantes recordou, nos dois, o pai de ambos, parecendo-lhe mesmo, vê-lo em cada um deles.
Lembrou-se, também, da avó, da mãe, do avô, do pai e, de repente, viu-os ali, entre o Gonçalo e o Rodrigo.
Queria falar, precisava de se despedir, mas não conseguia articular uma só palavra. Tanta coisa, tanta, que ficara por lhes dizer. Tanto carinho, tanto gesto, que ficara por fazer...
Ela só queria confessar-lhes isso.
Mas o som não saía...
Reunindo as últimas forças, apenas conseguiu apertar forte e juntar no seu coração, uma sobre a outra, as mãos dos dois. Exactamente, como há muitos anos atrás, quando ela era criança, fizera no leito de morte de sua mãe.
Ela sabia que eles iriam fechar os seus olhos.
Sorriu-lhes, com ternura, e morreu.
Serena...
Ao ler o blog do Cusco, lembrei-me deste texto...
Espero que gostes!