Noite...

Sentada na varanda, fixo o horizonte, vejo o sol a esconder-se lentamente...
Dando lugar à escura e misteriosa noite...
Sinto a sua magia...
Ela liberta o medo...
A fantasia...
Os sentidos...
Com o seu enorme manto negro, esconde os amantes, de olhares indiscretos!
A escuridão acalma-me!...
Uma brisa suave, beija-me o rosto, brinca com os meus cabelos, provoca-me, e trás até mim o perfume das rosas do jardim, lembrando-me que já é Primavera!
Fecho os olhos, e penso!... Meu Deus!...Quantas estações do ano eu já passei nesta varanda, sentada neste velho baloiço!... Olhando o horizonte!
Esperando um sonho...
Meus olhos cansados de esperar, já não choram!
Há muitos anos que esgotaram os cristais salgados...
O meu coração ainda bate... Mas já não dói!...
O vazio que tantas vezes senti, já foi preenchido, com as recordações e a saudade!
Dos meus lábios, nasce um sorriso timido, como que a anunciar-me que ainda não morri!
Não te esqueci...
Jamais te esquecerei...
Fazes parte das recordações que preencheram o meu vazio!
Sinto frio!...
A solidão ajuda-me a levantar, e conduz-me à cama, a angústia ajeita-me os cobertores, e o sonho vem dar-me o beijo de "boa noite"!...

Estrada

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Ando há milhares de horas nesta estrada sem fim...
Estou só...
Lembro-me de todos os momentos da minha vida, alguns mais marcantes que outros, outros dolorosos, mas que nos ficam na memória, como feridas abertas sem hipótese de sararem...
O que eu não faria para ter novemente a chance de abraçar meus amigos, e dizer-lhes o quanto significaram para mim!
Todo o meu ser é habitado por angústia, medo e até falsa alegria...
A meio desta longa caminhada, encontro-o... Não sei quem é!
Ele também parece perdido, mas sinto que existe nele, algo que o impele a ficar...
E, ele fica...
Tento afugentá-lo... Mas ele não cede!...
Mostro-lhe toda a minha raiva, amargura, ódio, mesmo assim ele não desiste...
Aproxima-se... Toca-me!...
Estremeço ao seu contacto, afinal ainda tenho coração, e bate no compasso certo...
Ele ensina-me que não há mal nenhum em chorar, pede-me para não desistir de amar!
Agarra meu rosto, e beija meus lábios...
Fecho os olhos... Absorvo toda a magia do momento!...
E, vejo-o afastar-se...
Ainda hoje penso nele!
Quem seria?!
Só sei que lhe ficarei eternamente grata, por ter aparecido na minha vida, no momento em que mais precisei...
Abriu-me o coração...
Acalmou minha alma...
Obrigada meu ANJO!

Coração!

Carrego o teu coração comigo...
Carrego-o no meu coração!
Nunca estou sem ele.
E, onde eu for, tu vais comigo!
E o que quer que faça, faço por ti...
Não temo o destino...
Tu és o meu destino!
Não quero o mundo...
Pois tu és o meu mundo, a minha verdade!
Eis o grande segredo, que ninguém sabe...
aqui está a raíz da raíz, o broto do broto, e o céu do céu, de uma árvore chamada vida, que cresce mais do que a alma pode esperar, ou a mente pode esconder.
E, esse é o prodígio, que mantém as estrelas à distância...
Carrego o teu coração comigo...
Carrego-o no meu coração!

O jogo

Entrei neste jogo pensando que era mais um jogo, como tantos outros, em que se participa, pelo prazer, pela amizade e acima de tudo por amor!
Joguei, pensando tratar-se apenas de uma brincadeira, mais um jogo, entre tantos outros...
Mas não!
Este não era um jogo qualquer...
Este era "O JOGO"!
Quando entrei, pensei tratar-se de um jogo simples...
Entrei de coração aberto, com respeito e amor pelo adversário
Mas as regras eram complicadas, e só mais tarde me apercebi, que a técnica que eu utilizei ao entrar neste jogo, já não se utiliza há séculos...
As regras mudaram, e poucos são, os que realmente sabem jogar!
Nesta nova versão "DO JOGO", não há honra, respeito, nem amor...
É um jogo com regras mais calculistas, mais frias, mais astutas...
E, se pensas que nunca entraste neste jogo...
Enganas-te!...
Já cá estás...
Jogando sem saberes, e tens biliões de adversários, e onde muitas vezes arriscar, significa morrer...
Neste jogo chamado vida, onde existem vencedores e vencidos, só me resta desejar paz, para todos aqueles que não aguentaram O JOGO!...

Praia

O caminho parece mais longo do que o habitual, talvez seja a ânsia de estar num lugar calmo, onde por entre silêncios profundos, me confesso...
Olho a paisagem, e vejo que estou a chegar...
Continuo com o olhar fixo, na esperança de que tenha aparecido algo novo, desde a última vez que aqui estive...
Mas não!
Está tudo igual...
Percorro as ruas estreitas, onde as cabanas, parecem ter-se erguido do nada...
Olho com atenção, para aquelas pessoas... Sinto magia no ar!
O que vejo é uma obra prima da natureza...
Continuo a minha caminhada, e chego finalmente ao meu destino!
Galgo as dunas, e sento-me á beira-mar!...
E, aí, desligada de tudo e ligada a nada, penso na minha vida, lembro-me de ti, e... contemplo o horizonte...
Sinto a brisa suave no meu rosto...
Imagino-te, no doce balançar das ondas, no calor da areia sob minhas pernas...
E a tua presença parece tão real...
Tenho nos lábios um leve sabor salgado, mas não é da proximidade com o mar...
Não!
É o sabor da mágoa... O sabor da tua ausência...
Em jeito de despedida, o vento sopra cada vez mais forte, mas o que me diz, não é um "Adeus", mas um "Até sempre"...
E, eu lá voltarei num outro dia...
Numa outra hora...
Numa outra vida...
Mas sempre com o mesmo sentimento!...

Estrada!

Cá estou eu, outra vez, percorrendo esta estrada sem fim, mas não estou só...
Caminham comigo velhos companheiros de viagem...
A solidão...
O ódio...
O desprezo...
A desilusão
A vingança...
O arrependimento...
O caminho é longo... O silêncio, quase me ensurdece...
A culpa pesa-me tanto na cabeça, como nos ombros...
Dói-me o olhar...
Todos me viraram as costas!
Sei que magoei muita gente, mas também fui magoada!
Chorei lágrimas de sangue, jurei vingança!...
E agora?!...
Que tenho?
Nada!
Choro por não poder voltar atrás...
Choro por já não ter mais lágrimas...
Choro por já não saber amar...
Restam-me estes fiéis companheiros de viagem,
Que um dia me irão matar!...

Solidão

Quando pensamos em solidão, imaginamos sempre, falta de alguém para conversar, para namorar, passear, ou fazer amor...
Mas a isso, eu chamo carência!
Solidão não é quando sentimos falta daquele amigo com quem costumavamos partilhar confidências...
A isso eu chamo saudade!
Solidão não é quando, voluntáriamente, nos enclausuramos com os nossos próprios pensamentos, para nos reorganizarmos...
A isso, eu chamo, a procura do equilibrio!
Solidão não é falta de gente à nossa volta,
isso é apenas uma circunstância da vida!
Para mim solidão é muito mais que isso...
Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos,
e procuramos em vão pela nossa alma!...



A solidão é veste pesada
que conhece minhas veias,
palco de perpétuo inverno.
A solidão,
de gelo me cobre
de gelo...

Só...

A noite chega...
Fria e escura...
As nuvens não me deixam ver o brilho das estrelas!...
O silêncio inunda a casa vazia de ti...
Pela primeira vez, sinto medo!
Sento-me no chão, enroscada, a um canto da sala, meus olhos vagueiam perdidos, sem rumo...
Em cada objecto vejo teu rosto...
As molduras espalhadas pela sala, guardam para a eternidade os nossos sorrisos!
O sofá, ainda guarda o teu cheiro, e esconde nossos mais íntimos segredos!
O som da lenha arder na lareira parece chamar por ti!
O meu coração grita em silêncio...
Deito-me sobre o tapete, e ligo a aparelhagem, a música inunda a sala...
A nossa música...
Fecho os olhos, e entrego-me ao desespero, a loucura domina os meus sentidos, as lágrimas correm soltas, livres...
O nó da garganta, vai-se desfazendo, conforme os cristais salgados vão caindo...
E a música não pára...
Com as mãos abafo o som dos gritos de dor que se soltam, depois de meses escondidos!
Exteriorizo toda a minha angustia, todo o meu medo, todo o meu ódio, todo o meu amor...
A música acabou!
As lágrimas secaram!
A dor não passou, ainda me consome por dentro!
Continuo deitada no tapete da sala, junto à lareira...
Ainda sinto a tua falta!
Os nossos sorrisos continuam espalhados pela sala.
Nada mudou...
Só o meu coração morreu!...

Felicidade

A felicidade é um mistério quase tão grande como o amor...
Todos a procuramos...
E imaginamos que só a iremos encontrar num grande amor, numa realização profissional ou pessoal...
Triste ilusão...
Somos infelizes, e acabamos sempre a culpar alguém por isso!
Não sabemos ao certo como ela é, quando chega, como se manifesta...
E, por isso, deixamo-la tantas vezes passar ao nosso lado, sem darmos por isso...
Ela pode estar num gesto de um amigo...
No cheiro de uma flor na primavera...
No canto altivo de uma ave...
No mistério de um olhar...
Num sorriso...
Eu também já pensei tantas vezes, em como a vida tem sido injusta comigo, em como eu sou infeliz no amor, na profissão...
E que a dita felicidade, tinha passado á minha porta, mas não tinha entrado!
Até hoje!...
Olhei para o meu filho, e vi o quanto estava enganada!
Vi o seu lindo sorriso, o seu olhar penetrante e decidido, senti firmeza na sua voz grave, e fiquei tão orgulhosa de mim, dele...
Olhei para o meu passado, e senti-me feliz!
Afinal a felicidade entrou em minha casa no dia que ele nasceu!...