Certa madrugada fria irei de cabelos soltos ver como crescem os lírios. Quero saber como crescem simples, belos e perfeitos!Ao abandono nos campos...

quinta-feira, janeiro 25, 2007

A Fuga!


Eles fogem...
Eles calam-se e fogem, todos temos um pouco daquele medo que nos arrasta, ferra as garras no nosso corpo e nos consome, espreme-nos e delicia-se, porque entregamo-nos sem saber porquê.
Todos nós temos medo de saber que estamos fugindo, sem fazer nada.
Nem salvar uma flor!
Nem cuidar das ondas!
Nem proteger a terra!
Nem amar um pássaro ferido a tremer, que olha para a cara de um menino.
Nem uma lágrima de obrigado, uma lágrima muito quente escorrer e a aquecer o peito e que salva os inúteis...
Nem isso fazemos. Calamo-nos e fugimos com medo da nossa própria vida. Talvez já sejam horas demais para ser cedo, são quase horas de ser tarde. Talvez nem adiante pensar que estamos mortos.
Sós na vida.
Cansados.
Enterrados na cegueira que nos obriga a correr no mundo sem o compreender. Porque nem nós próprios nos compreendemos! É triste... É melancólico sentir a noite para quem não sonha...
É melancólico sentir que nem temos medo de sermos nós próprios a arma com que nos matamos.
Porque fugimos do mundo. Porque procuramos o nada de tudo. Aquele tudo que caberá numa grande folha, para pregar no nosso quarto, quando os nossos netos gostarem de ver a fotografia da inutilidade, que envelheceu a nossa mente tão estupidamente...
Quando sentirmos frio!
Quando o sol baixar e a luz se apagar. Quando precisarmos de amor, a folha iluminar-se-á e recordará que um pássaro nunca treme, nem sente frio, nem precisa de luz e amor, enquanto existirem crianças que com uma lágrima os façam aquecer e esquecer que não são pássaros, mas sim homens...
Homens que fogem...
Homens que gritam...
Homens que têm medo de serem homens...
Homens que passam a vida sem viver e apenas existem...
Toda a pessoa, que não olha para aquilo que a rodeia, para tudo aquilo que a suporta na terra, existe apenas.
Nem ela própria sabe que não vive, porque nunca viu uma flor, nem compreende que tudo diz alguma coisa antes de morrer.
Porque nunca ouviu o mar, as pedras, os moinhos, os pássaros, as flores, os montes e as casas falarem...
Porque a ignorância quis ser dona e rainha do seu próprio mundo!

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Laços Eternos


Hoje, ao atender o telefone que insistentemente exigia atenção, o meu mundo desabou!
Entre soluços, e lamentos, a voz do outro lado da linha, informa-me que o meu amigo, meu companheiro de jornada, meu ombro amigo, havia sofrido um grave acidente, vindo a falecer quase que instantaneamente.
Lembro-me de ter desligado o telefone, e caminhado a passos lentos para o meu quarto, meu refugio particular.
As imagens da minha juventude, vieram à minha mente, a universidade, as bebedeiras, as conversas em volta da lareira, até altas da madrugada, os amores não correspondidos, as confidências ao pé do ouvido, a cumplicidade, os sorrisos...ahhhhhh, os sorrisos...como eram fáceis de surgir naquela época. Lembrei-me da queima das fitas, de um novo horizonte que surgia... das lágrimas na hora da despedida! E principalmente das promessas de novos encontros!
Lembro-me perfeitamente de cada feição dele, em seus olhos via a promessa de que eu nunca seria esquecida.
E realmente nunca fui. Perdi a conta das vezes em que ele carinhosamente me ligava, quando eu estava no fundo do poço... Ou das mensagens, (que nunca respondi) que ele constantemente enviava enchendo o meu telemóvel de esperanças e promessas de um mundo melhor.
Lembro que foi em seu ombro que chorei a perda do meu adorado pai. Lembro que foi no seu ouvido que derramei as lamentações de uma relação que não vingou. Lembro que foi o seu rosto que eu vi, quando o meu filho nasceu!
Apesar do esforço, para vasculhar a minha mente, não consegui lembrar-me de uma só vez em que tenha pego no telefone, para lhe ligar e dizer o quão importante a sua amizade era para mim.
Afinal, eu era uma mulher muito ocupada. Eu não tinha tempo. Não me lembro de ter feito qualquer tipo de surpresa, como aparecer de repente, com uma garrafa de vinho e um coração aberto, disposto a ouvir. Eu não tinha tempo. Não me lembro de qualquer dia em que estivesse disposta a ouvir os seus problemas, acho que nunca imaginei que ele tivesse problemas. Não me dignei a reparar que constantemente o meu amigo passava da conta na bebida, achava divertido o seu jeito bêbado de ser, afinal ele era sempre uma óptima companhia para mim...
Só agora vejo claramente o meu egoismo. Talvez - e este "Talvez" vai acompanhar-me eternamente, se tivesse saído do meu pedestal, egocêntrico e prestado mais atenção, o meu amigo não teria bebido demais e não teria jogado sua vida fora, ao perder o controle de um carro que concerteza, não tinha a minima condição de conduzir.
Talvez, ele que sempre inundou o meu mundo, com a sua iluminada presença, estivesse sentindo-se só. Até mesmo as mensagens engraçadas que ele constantemente deixava no meu telemóvel, poderiam ser o seu jeito de pedir ajuda...
Aquelas mensagens que eu apaguei do telefone, jamais se apagarão da minha consciência. Estas indagações que inundam agora o meu ser, nunca mais terão resposta. A minha falta de tempo impediu-me de respondê-las.
Agora, lentamente escolho uma roupa preta, digna do meu estado de espirito e pego no telefone. Aviso o meu chefe de que não irei trabalhar hoje e quem sabe nem amanhã, nem depois...
Pois irei tirar o dia para homenagear com o meu pranto, a uma das pessoas que mais amei nesta vida. Ao desligar o telefone, com surpresa eu vejo, entre lágrimas e remorsos, de que para isto, para acompanhar durante um dia inteiro, o seu corpo sem vida, eu tive tempo!
Descobri, que se não tomas as rédeas da tua vida, o tempo engole-te e escraviza-te.
Trabalho com o mesmo afinco de sempre, mas somente sou a profissional durante o horário de expediente, fora dele, sou um ser humano!
Nunca mais uma mensagem ficou sem pelo menos um "Olá" de resposta.
Tento enviar sempre aos meus amigos diversas mensagens de amizade. Escrevo postais de Feliz aniversário e de Natal, lembrando sempre como essas pessoas são importantes para mim. Abraço constantemente minhas irmãs e família, pois os laços que nos unem são eternos.
Esses momentos costumam desaparecer com o tempo, e todo o cuidado é pouco!

terça-feira, janeiro 09, 2007

Eu Tentei!


Quem é que nunca tentou explicar a morte para uma criança?
Muita gente, pensam vocês... algumas vezes, sem qualquer sucesso...
Eles pura, e simplesmente não entendem!
Então optamos pela ficção... "é mais uma estrela no céu..." e por aí fora...
Eu infelizmente, também tive que explicar a morte, de um ente, muito querido...
Tentei à minha maneira, começando por lhe pedir, que pronunciasse a palavra "morto"!
E então comecei:
" É dificil não é? provávelmente porque é uma palavra triste... e que dá um pouco de medo.
Vamos voltar a repetir, " MORTO", agora vamos falar de outra palavra parecida, " MORREU".
Foi o que aconteceu com o avô, ele morreu. Ele está morto!
Não é como nos filmes, em que morrem, e no filme a seguir, já estão novamente vivos! Não!
Morreu... quer dizer morreu... o avô, foi embora, não vai voltar mais.
Quando uma coisa ruim acontece, nós preferimos fazer de conta que nada aconteceu. Imaginamos que não é verdade.
Quando o avô morreu, nem queríamos acreditar! Pensamos até que ele tinha ido fazer uma longa viagem, e vai voltar!
Mas nós sabemos que isso não é verdade, o avô morreu!
Continuamos a amá-lo, vamos sentir muito falta dele, mas não podemos fazer ele viver de novo!
O que quer dizer morreu?
Lembras-te do nosso cachorrinho, que foi atropelado? Ele ficou lá na rua, deitado, sem respirar, sem se mexer, seu coração parou de bater. Ele nunca mais vai respirar, ou voltar a mexer-se.
Ele estava morto!
A mesma coisa acontece com as pessoas, o corpo não se mexe, o coração não bate, já não respira! Fica sem dor... sem vida... em paz... A morte é tão triste...
Nós sentimos tanta falta do avô, que dá vontade de chorar, então porque esconder? vamos chorar juntos... é uma maneira de mostrar que sentimos a falta dele.
Ficaste preocupado? Com medo de ter feito algo errado, e achas que por isso o avô não está mais aqui?
Não é verdade! O avô não morreu porque tu fizeste algo errado, nada que tivesses feito ou deixado de fazer, tem a ver com a morte dele.
Bem pelo contrário, tu muitas vezes fizeste ele ficar tão feliz...
Mesmo que tenhas feito, algo errado, ele sempre te compreendeu e perdoou, e como te amava muito nunca ficou magoado contigo!
Ele não morreu por tua causa!
Todas as pessoas morrem!
Eu sei, que deves estar sentindo raiva do avô ter morrido, como é que ele teve coragem de te abandonar, sentes-te só? abandonado?
Queres falar sobre isso? Falar ajuda...
É muito dificil compreender a morte. Para mim também. Talvez tu possas ajudar-me e eu vou te ajudar...
Nós não podemos mais ver o avô, falar com ele, mas podemos sempre lembrar dele.
Lembras-te das histórias que ele te contava? Das coisas que fazias e ele gostava tanto?
Agora ele morreu. Mas nós vamos sempre lembrá-lo.
Nós não vamos esquecer que ele morreu... Mas vamos sempre lembrar que ele viveu!"
Não sei se ele compeendeu...
Eu tentei!

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Um Dia...!


Depois de tantos anos ainda acordo, com a sensação de que estás ao meu lado!
Por breves segundos procuro-te... no espaço vazio e frio!...
O quarto ainda tem o teu cheiro... ou será que sou eu, que ainda tenho o teu cheiro entranhado no meu corpo! não sei!!!!
Levanto-me, e na casa de banho, a tua escova de dentes, permanece lá, como se esperasse o teu regresso,( juro, que já tentei centenas de vezes deitá-la fora, mas não consigo!).
Na sala, eu retirei todas as fotos, era muito angustiante, olhar todos os dias para ti, e não te poder tocar.
Mas, no quarto ao lado, está alguém que não me deixa esquecer-te!
Os mesmos olhos cinzentos, olham para mim todos os dias! As perguntas há muito se esgotaram, por falta de respostas...
Ele sabe que tem pai! Porque todos os meninos na escola, têm! Só que o dele foi embora! Sem ao menos saber que ele estava para nascer...
Não te culpo! juro!
Não sabias... e continuas sem saber, que existe algures... um menino com vontade de conhecer o pai!
Não é egoismo! nem vontade de te castigar... eu simplesmente não sei onde estás!
Nunca soube...
Foi como um pesadelo... Um dia chegaste, fizeste as malas, e disseste-me:
Vou embora! Amo-te, mas não tenho idade, para estar preso a uma relação, quero viajar, conhecer o mundo, amadurecer... deste-me um beijo, e partiste, dizendo: "Um dia volto"
Mas não voltaste! mudaste o nº de telefone, evaporaste...
Fiquei sentada no sofá, a voz não saía, as palavras morreram na garganta... Queria gritar, que estava esperando um filho, mas fiquei muda...
Não sei por quanto tempo ainda esperei que voltasses...
Qualquer barulho estranho, pensava que poderias ser tu... mas eram apenas ilusões!
Tu não me amavas, e não voltarías...
Habituei-me a fazer tudo só! Os passeios à tarde na praia, nos quentes dias de Verão, as idas ao cinema, entrar em todas as lojas e não comprar nada, montar a árvore de Natal, enfim...
Agora não! Tenho alguém que faz isso tudo comigo, um ser pequenino, mas que é tudo para mim! E é só meu!!!
As pegadas na areia, agora são marcadas a pares...
Por isso, faço um apelo, bem ao contrário daquilo que seria de esperar!
Não voltes! Não saberia o que dizer ao nosso filho!
Nem estou preparada para te receber... Um dia, ainda vou acordar e não vou lançar os braços à tua procura...
A escova de dentes, acabei de deitá-la para o lixo!
Já nada resta, que me faça lembrar de ti...
Apenas os mesmos olhos cinzentos... mas esses são lindos!
Um dia... quem sabe... vou conseguir esquecer-te!