Certa madrugada fria irei de cabelos soltos ver como crescem os lírios. Quero saber como crescem simples, belos e perfeitos!Ao abandono nos campos...

segunda-feira, maio 28, 2012


(FAZ HOJE 1 ANO QUE PARTISTE)

Ao atender o telefone que insistentemente exigia atenção, o meu mundo desabou.
Entre soluços, e lamentos, a voz do outro lado da linha, informa-me que o meu amigo, o meu companheiro de jornada, meu ombro amigo, havia sofrido um grave acidente, vindo a falecer quase que instantaneamente.
Lembro-me de ter desligado o telefone, e caminhado a passos lentos para o meu quarto, meu refugio particular.
Logo um conjunto de imagens vieram à minha mente... a universidade, as bebedeiras, as conversas em volta da lareira, até altas da madrugada, os amores não correspondidos, as confidências ao pé do ouvido, a cumplicidade, os sorrisos...ahhhhhh, os sorrisos...como eram fáceis de surgir naquela época. Lembrei-me da queima das fitas, de um novo horizonte que surgia... das lágrimas na hora da despedida! E principalmente das promessas de novos encontros.
Lembro-me perfeitamente de cada feição dele, em seus olhos via a promessa de que eu nunca seria esquecida.
E realmente nunca fui. Perdi a conta das vezes em que ele carinhosamente me ligava, quando eu estava no fundo do poço... Ou das mensagens, (que nunca respondi) que ele constantemente enviava enchendo o meu telemóvel de esperanças e promessas de um mundo melhor.
Lembro que foi em seu ombro que chorei a perda do meu adorado pai. Lembro que foi no seu ouvido que derramei as lamentações de uma relação que não vingou. Lembro que foi o seu rosto que eu vi, quando um dia acordei no hospital.
Apesar do esforço, para vasculhar a minha mente, não consegui lembrar-me de uma só vez em que tenha pego no telefone, para lhe ligar e dizer o quão importante a sua amizade era para mim.
Afinal, eu era uma mulher muito ocupada. Eu não tinha tempo. Não me lembro de ter feito qualquer tipo de surpresa, como aparecer de repente, com uma garrafa de vinho e um coração aberto, disposto a ouvir. Eu não tinha tempo. Não me lembro de qualquer dia em que estivesse disposta a ouvir os seus problemas, acho que nunca imaginei que ele tivesse problemas. Não me dignei a reparar que constantemente o meu amigo passava da conta na bebida, achava divertido o seu jeito bêbado de ser, afinal ele era sempre uma óptima companhia para mim...
Só agora vejo claramente o meu egoismo. Talvez - e este "Talvez" vai acompanhar-me eternamente, se tivesse saído do meu pedestal, egocêntrico e prestado mais atenção, o meu amigo não teria bebido demais e não teria jogado sua vida fora, ao perder o controle de um carro que concerteza, não tinha a minima condição de conduzir.
Talvez, ele que sempre inundou o meu mundo, com a sua iluminada presença, estivesse sentindo-se só. Até mesmo as mensagens engraçadas que ele constantemente deixava no meu telemóvel, poderiam ser o seu jeito de pedir ajuda...
Aquelas mensagens que eu apaguei do telefone, jamais se apagarão da minha consciência. Estas indagações que inundam agora o meu ser, nunca mais terão resposta. A minha falta de tempo impediu-me de respondê-las.
Agora, lentamente escolho uma roupa preta, digna do meu estado de espirito e pego no telefone. Aviso o meu chefe de que não irei trabalhar hoje e quem sabe nem amanhã, nem depois...
Pois irei tirar o dia para homenagear com o meu pranto, a uma das pessoas que mais amei nesta vida. Ao desligar o telefone, com surpresa eu vejo, entre lágrimas e remorsos, de que para isto, para acompanhar durante um dia inteiro, o seu corpo sem vida, eu tive tempo!
Descobri, que se não tomas as rédeas da tua vida, o tempo engole-te e escraviza-te.
Trabalho com o mesmo afinco de sempre, mas somente sou a profissional durante o horário de expediente, fora dele, sou um ser humano!
Nunca mais uma mensagem ficou sem pelo menos um "Olá" de resposta.
Tento enviar sempre aos meus amigos diversas mensagens de amizade. Escrevo postais de Feliz aniversário e de Natal, lembrando sempre como essas pessoas são importantes para mim. Abraço constantemente minha mãe e família, pois os laços que nos unem são eternos.
Esses momentos costumam desaparecer com o tempo, e todo o cuidado é pouco.

2 comentários:

Anónimo disse...

Minha querida, é normal sentirmos isso quando perdemos para sempre alguém que amamos muito.
Mas tu não ías adivinhar.
Tenho a certeza que se esse teu amigo era sempre assim contigo é porque tu eras uma pessoa muito especial para ele e de quem ele gostava. Muitas vezes não é preciso dizermos algo, as coisas transparecem, sentem-se... Basta simples olhares, cumplicidade... Tenho a certeza que esse teu amigo sentia o quanto gostavas dele senão já se tinha afastado de ti.
Muitas pessoas estão sempre a repetir determinadas palavras mas que nos entram por um ouvido e saem por outro porque não sentimos que sejam realmente verdadeiras. Palavras leva-as o vento...
Beijo grande com muito carinho.

s disse...

É das publicações mais difíceis para eu comentar, talvez porque já perdi algumas pessoas queridas ou talvez porque não há palavras para que a outra pessoa se sinta bem ou se sinta melhor.
Nestes momentos parece que o mundo é demasiado grande e todo o mundo está contra nós. A palavra "porquê" e "se" está em todo o lado e temos um vazio sempre presente.
Não te deves sentir culpada por nada, foi um triste acidente.
A vida é demasiado preciosa e nunca se deve perder nenhuma oportunidade para fazer o que devemos fazer.
Devemos actuar no nosso dia a dia, como se cada dia fosse o último e se tivéssemos consciência disso faríamos as coisas completamente diferentes, mas não, elaborámos sempre um plano, amanhã isto, depois aquilo e nem sempre somos senhores desse mesmo plano.

Os bons momentos ficam para sempre e isso é o mais importante.

Beijinhos.