Certa madrugada fria irei de cabelos soltos ver como crescem os lírios. Quero saber como crescem simples, belos e perfeitos!Ao abandono nos campos...

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Um Dia...!


Depois de tantos anos ainda acordo, com a sensação de que estás ao meu lado!
Por breves segundos procuro-te... no espaço vazio e frio!...
O quarto ainda tem o teu cheiro... ou será que sou eu, que ainda tenho o teu cheiro entranhado no meu corpo! não sei!!!!
Levanto-me, e na casa de banho, a tua escova de dentes, permanece lá, como se esperasse o teu regresso,( juro, que já tentei centenas de vezes deitá-la fora, mas não consigo!).
Na sala, eu retirei todas as fotos, era muito angustiante, olhar todos os dias para ti, e não te poder tocar.
Mas, no quarto ao lado, está alguém que não me deixa esquecer-te!
Os mesmos olhos cinzentos, olham para mim todos os dias! As perguntas há muito se esgotaram, por falta de respostas...
Ele sabe que tem pai! Porque todos os meninos na escola, têm! Só que o dele foi embora! Sem ao menos saber que ele estava para nascer...
Não te culpo! juro!
Não sabias... e continuas sem saber, que existe algures... um menino com vontade de conhecer o pai!
Não é egoismo! nem vontade de te castigar... eu simplesmente não sei onde estás!
Nunca soube...
Foi como um pesadelo... Um dia chegaste, fizeste as malas, e disseste-me:
Vou embora! Amo-te, mas não tenho idade, para estar preso a uma relação, quero viajar, conhecer o mundo, amadurecer... deste-me um beijo, e partiste, dizendo: "Um dia volto"
Mas não voltaste! mudaste o nº de telefone, evaporaste...
Fiquei sentada no sofá, a voz não saía, as palavras morreram na garganta... Queria gritar, que estava esperando um filho, mas fiquei muda...
Não sei por quanto tempo ainda esperei que voltasses...
Qualquer barulho estranho, pensava que poderias ser tu... mas eram apenas ilusões!
Tu não me amavas, e não voltarías...
Habituei-me a fazer tudo só! Os passeios à tarde na praia, nos quentes dias de Verão, as idas ao cinema, entrar em todas as lojas e não comprar nada, montar a árvore de Natal, enfim...
Agora não! Tenho alguém que faz isso tudo comigo, um ser pequenino, mas que é tudo para mim! E é só meu!!!
As pegadas na areia, agora são marcadas a pares...
Por isso, faço um apelo, bem ao contrário daquilo que seria de esperar!
Não voltes! Não saberia o que dizer ao nosso filho!
Nem estou preparada para te receber... Um dia, ainda vou acordar e não vou lançar os braços à tua procura...
A escova de dentes, acabei de deitá-la para o lixo!
Já nada resta, que me faça lembrar de ti...
Apenas os mesmos olhos cinzentos... mas esses são lindos!
Um dia... quem sabe... vou conseguir esquecer-te!

4 comentários:

Flor de Tília disse...

Fantástico! Lindo post. Encontrei-te no Cusco e vim cuscar. Fiquei fascinada! Temos mulher. Força amiga! Quem te abandonou, a ser verídica a história, não te merecia. Esses lindos olhos cinzentos amam-te e por eles vale sempre a pena viver, lutar, sorrir...
Um beijinho muito grande

Cusco disse...

Olá. Obrigado por voltares a escrever..Texto lindo dentro do género que aprecio..
Continua,continua, queremos mais,mais,mais....
bjs

Flor de Tília disse...

Continua a escrever. Não menciones nomes. A escrita é uma forma de desabafar as mágoas que nos vão dentro.Também gosto muito de escrever e tenho arranjado por aqui alguns amigos.
Beijinhos. Não desistas!

sm disse...

Antes de mais, os meus parabéns pelo magnífico texto, apesar de infelizmente, relatar o que é comum nos dias de hoje.
Nas relações não devia ser obrigatório dar e receber, devia ser um acto natural, devia ser uma necessidade de cada um, mas não.
Infelizmente damos e ficámos à espera de receber e quando não recebemos vários sentimentos se apoderam de nós e o “se” está sempre presente.
Ter um filho é a maior dádiva que um casal pode ter, o desejo de ter deve ser comum, assim como a vontade, a alegria deve ser partilhada assim como a tristeza, o sofrimento por momentos menos bons e tudo o que contempla esse acto.
Infelizmente por má escolha ou fruto de uma ocasião, há uma separação e mil desculpas aparecem e o resultado é o filho viver sem um dos pais ou abandonado.
Faz-me confusão e revolta porque não conseguiria abandonar em condições algumas mas não tenho o direito de julgar ninguém mas entristece-me que um acto de maior prova de amor resulte numa história triste.

Continua a escrever, acredito que a mudança está sempre nas pessoas desde que haja essa vontade.

beijinhos
sm