Certa madrugada fria irei de cabelos soltos ver como crescem os lírios. Quero saber como crescem simples, belos e perfeitos!Ao abandono nos campos...

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Laços Eternos


Hoje, ao atender o telefone que insistentemente exigia atenção, o meu mundo desabou!
Entre soluços, e lamentos, a voz do outro lado da linha, informa-me que o meu amigo, meu companheiro de jornada, meu ombro amigo, havia sofrido um grave acidente, vindo a falecer quase que instantaneamente.
Lembro-me de ter desligado o telefone, e caminhado a passos lentos para o meu quarto, meu refugio particular.
As imagens da minha juventude, vieram à minha mente, a universidade, as bebedeiras, as conversas em volta da lareira, até altas da madrugada, os amores não correspondidos, as confidências ao pé do ouvido, a cumplicidade, os sorrisos...ahhhhhh, os sorrisos...como eram fáceis de surgir naquela época. Lembrei-me da queima das fitas, de um novo horizonte que surgia... das lágrimas na hora da despedida! E principalmente das promessas de novos encontros!
Lembro-me perfeitamente de cada feição dele, em seus olhos via a promessa de que eu nunca seria esquecida.
E realmente nunca fui. Perdi a conta das vezes em que ele carinhosamente me ligava, quando eu estava no fundo do poço... Ou das mensagens, (que nunca respondi) que ele constantemente enviava enchendo o meu telemóvel de esperanças e promessas de um mundo melhor.
Lembro que foi em seu ombro que chorei a perda do meu adorado pai. Lembro que foi no seu ouvido que derramei as lamentações de uma relação que não vingou. Lembro que foi o seu rosto que eu vi, quando o meu filho nasceu!
Apesar do esforço, para vasculhar a minha mente, não consegui lembrar-me de uma só vez em que tenha pego no telefone, para lhe ligar e dizer o quão importante a sua amizade era para mim.
Afinal, eu era uma mulher muito ocupada. Eu não tinha tempo. Não me lembro de ter feito qualquer tipo de surpresa, como aparecer de repente, com uma garrafa de vinho e um coração aberto, disposto a ouvir. Eu não tinha tempo. Não me lembro de qualquer dia em que estivesse disposta a ouvir os seus problemas, acho que nunca imaginei que ele tivesse problemas. Não me dignei a reparar que constantemente o meu amigo passava da conta na bebida, achava divertido o seu jeito bêbado de ser, afinal ele era sempre uma óptima companhia para mim...
Só agora vejo claramente o meu egoismo. Talvez - e este "Talvez" vai acompanhar-me eternamente, se tivesse saído do meu pedestal, egocêntrico e prestado mais atenção, o meu amigo não teria bebido demais e não teria jogado sua vida fora, ao perder o controle de um carro que concerteza, não tinha a minima condição de conduzir.
Talvez, ele que sempre inundou o meu mundo, com a sua iluminada presença, estivesse sentindo-se só. Até mesmo as mensagens engraçadas que ele constantemente deixava no meu telemóvel, poderiam ser o seu jeito de pedir ajuda...
Aquelas mensagens que eu apaguei do telefone, jamais se apagarão da minha consciência. Estas indagações que inundam agora o meu ser, nunca mais terão resposta. A minha falta de tempo impediu-me de respondê-las.
Agora, lentamente escolho uma roupa preta, digna do meu estado de espirito e pego no telefone. Aviso o meu chefe de que não irei trabalhar hoje e quem sabe nem amanhã, nem depois...
Pois irei tirar o dia para homenagear com o meu pranto, a uma das pessoas que mais amei nesta vida. Ao desligar o telefone, com surpresa eu vejo, entre lágrimas e remorsos, de que para isto, para acompanhar durante um dia inteiro, o seu corpo sem vida, eu tive tempo!
Descobri, que se não tomas as rédeas da tua vida, o tempo engole-te e escraviza-te.
Trabalho com o mesmo afinco de sempre, mas somente sou a profissional durante o horário de expediente, fora dele, sou um ser humano!
Nunca mais uma mensagem ficou sem pelo menos um "Olá" de resposta.
Tento enviar sempre aos meus amigos diversas mensagens de amizade. Escrevo postais de Feliz aniversário e de Natal, lembrando sempre como essas pessoas são importantes para mim. Abraço constantemente minhas irmãs e família, pois os laços que nos unem são eternos.
Esses momentos costumam desaparecer com o tempo, e todo o cuidado é pouco!

4 comentários:

Cusco disse...

Depois de ler o teu texto só me veio à ideia este poema. Não sei se já conheces mas é lindo e para nos fazer parar e reflectir:


NÃO TENHO TEMPO

Sabe, meu filho, até hoje não tive tempo para brincar com você.
Arranjei tempo para tudo, menos para ver você crescer.
Nunca joguei dominó, dama, xadrez ou batalha naval com você.
Percebo que você me rodeia, mas sabe, sou muito importante e não tenho tempo.
Sou importante para números, conversas sociais, uma série de
compromissos inadiáveis...
E largar tudo isso para sentar no chão com você... Não, não tenho tempo!
Um dia você veio com um caderno da escola para o meu lado. Não
liguei, continuei lendo o jornal. Afinal, os problemas
internacionais são mais sérios que os da minha casa.
Nunca vi seu boletim nem sei quem é a sua professora. Não sei nem
qual foi sua primeira palavra; também, você entende... Não tenho tempo...
De que adianta saber as mínimas coisas de você se eu tenho outras
grandes coisas a saber?
Puxa, como você cresceu! Você já passou da minha cintura, está
alto! Eu não havia reparado nisso. Aliás, não reparo em quase
nada, minha vida é corrida.
E quando tenho tempo, prefiro usá-lo lá fora. E se o uso aqui,
perco-me diante da TV. A TV é importante e me informa muito...
Sabe, filho, a última vez que tive tempo para você, foi numa
cama, quando o fizemos!
Sei que você se queixa, que você sente falta de uma palavra, de
uma pergunta minha, de um corre-corre, de um chute na bola. Mas
eu não tenho tempo...
Sei que você sente falta do abraço e do riso, de andar a pé até a
padaria, para comprar guaraná. De andar a pé até o jornaleiro
para comprar "Pato Donald". Mas, sabe, há quanto tempo não ando a
pé na rua? Não tenho tempo...
Mas você entende, sou um homem importante. Tenho que dar atenção
a muita gente. Dependo delas... Filho, você não entende de
comércio! Na realidade, sou um homem sem tempo!
Sei que você fica chateado, porque as poucas vezes que falamos é
monólogo, só eu falo. E noventa por cento é bronca: quero
silêncio, quero sossego! E você tem a péssima mania de vir
correndo sobre a gente. Você tem mania de querer pular nos braços
dos outros... Filho, não tenho tempo para abraçá-lo.
Não tenho tempo para ficar com papo-furado com criança. Filho, o
que você entende de computador, comunicação, cibernética,
racionalismo? Você sabe quem é Marcuse, Mc Luhan?
Como é que vou parar para conversar com você? Sabe, filho, não
tenho tempo, mas o pior de tudo, o pior de tudo é que...
Se você morresse agora, já, neste momento, eu ficaria com um peso
na consciência, porque, até hoje, não arrumei tempo para brincar com você.
E, na outra vida, por certo,
Deus não TERÁ TEMPO de me deixar, pelo menos, Vê-lo!


(Autor: Neimar de Barros)

BlueShell disse...

Hoje é mais um dia triste. Há 2 anos atrás perdi o meu pai…a saudade e a dor são avassaladoras…
De dia para dia vou ficando mais só!Um dia...não terei ninguém...estarei só comigo mesma! Já perdi tanto nesta vida....
BShell

Flor de Tília disse...

Li o teu post com muita atenção. Gostei, senti um apertozinho na garganta, os olhos ficaram marejados. Não temos tempo para dizer aos amigos quanto gostamos deles, não temos tempo para dizer aos pais , aos filhos, ao marido quanto os amamos, não temos tempo para ouvir, não temos tempo para visitar, para ajudar...
Esta vida é uma veloz corrida egoista.
Passa tão depressa sem que nos entreguemos ao outro tanto quanto ele merece!
Beijinhos

s disse...

A fragilidade da vida é demonstrada nestes tristes acidentes, que nunca deviam existir. Infelizmente só damos importância às pessoas quando elas estão ausentes ou então partem repentinamente. A vida é demasiado importante e preciosa para sermos humanos e termos pequenos gestos ao contrário de sermos mundanos, mas cada um deve ter a consciência dos seus actos.
Ficam para sempre as boas recordações e isso é o mais importante.


beijinhos