Este não é um lugar de respostas. Aqui apenas lerás aquilo que eu quiser que tu leias.
Certa madrugada fria irei de cabelos soltos ver como crescem os lírios. Quero saber como crescem simples, belos e perfeitos!Ao abandono nos campos...
quinta-feira, outubro 21, 2010
Desencontro
Sentada na esplanada, ela tinha perdido a noção do tempo, seu olhar vagueava perdido entre os barcos que passavam e as pessoas que se aglomeravam ao fim da tarde!
A capital já não lhe parecia tão atractiva como quando há 2 anos trocou a sua aldeia e o controle da casa paterna pela misteriosa e apelativa Lisboa.
Sentia saudades do rio, dos amigos e do pai…
Daí que antes de voltar para o minúsculo apartamento que dividia com uma colega, ela sentava-se naquela esplanada junto ao rio, não era o mesmo é certo, mas ajudava a matar saudades…
Ele não conseguiu mesa para se sentar, encostou-se à parede e bebia sem vontade uma cerveja mais amarga que o normal, qualquer coisa servia de pretexto para não voltar cedo para casa, aguardava-o mais uma discussão, pois eram assim desde há meses todos os regressos a casa. O que ele julgara ser o amor da sua vida, tornou-se o seu pior pesadelo.
Mesmo assim respeitava aquele casamento embora ela não acreditasse.
Reparou na rapariga sentada na esplanada, estava só e notava alguma tristeza naquele olhar perdido…
Era morena e muito bonita, sentiu uma vontade enorme de desabafar, talvez com uma estranha fosse mais fácil fazê-lo, a falta de mesa para sentar-se foi o pretexto para se aproximar…
Falaram de trivialidades como o tempo, viagens, países que ela nunca visitou e que só conhecia pela internet, etc.
Após alguns minutos sentiram uma empatia um pelo outro e acabaram por falar da própria vida, ela comentou as saudades da aldeia, dos amigos e até das desavenças com o pai que tanto amava, ele contou-lhe da vida de casado, dos lindos dias românticos até ao pesadelo actual, falou dos filhos que desejava ter um dia e que a mulher menosprezava.
Falou dos ciúmes doentios que ditariam um dia o fim de um casamento que ele teimava em manter, falou-lhe do amor que morria a cada dia…
Calada, bebia cada palavra, cada gesto - Ele é um homem tão lindo, pensava ela enquanto bebia o café já gelado, tão meigo e tão maltratado…
O dia findava, o Sol deixava um rasto vermelho sobre rio… Ele apressou-se a despedir-se, perguntou se ela sempre aparecia por ali… Acenou com a cabeça num gesto de afirmação: Todas as tardes!
Quem sabe voltaremos a falar, comentou ele, ela acenou que sim, e despediram-se com um beijo na face.
Durante semanas ela voltou à mesma esplanada, bebia o seu café e esperava horas…
Durante semanas ele mudou o percurso para não passar perto do rio e não cair em tentação.
Um dia ele achou que devia tentar…
Nesse dia ela desistiu de esperar…
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4 comentários:
Um texto muito bonito e triste que trata uma realidade bastante actual, só denoto que ele apesar de ter sido mal tratado não deu a devida importância a alguém que apareceu no seu caminho um dia.
Se me perguntarem quem ficou a perder, eu acho que foram os dois, mas não condeno a atitude dela. Tudo tem um fim e a espera por alguém também.
beijinhos.
Boa noite (tirei o chapéu, que não uso, ao fazer o cumprimento)
Pois gostei desta foto e vou roubá-la.
Nada de espantar neste país, onde os ladrões vão ser reis: veja isto e isto.
Mas eu, como quero parecer um ladrão honesto, vou colocar o link para "esta casa"
Ainda não sei quando "vai para o ar", mas não será por falta d'ar, talvez tempo e disponibilidade.
Então até "um dia" (voltei a colocar o chapéu que não uso e assim me vou)
Como o comentário foi... para as calendas gregas ou romanas, não sei se os links anteriores estão correctos. (como não percebo muito destas máquinas... Paciência)
A "estampa" será dada à estampa no próximo dia 18.
Obrigada.
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